terça-feira, 20 de maio de 2008

20 de maio de 2008

Ontem levei a mae pra passear no Parque da Aclimaçao, pela manha. Caminhamos no sol, demos volta completa no parque e voltamos. Nao me irritei com nada, estou decidida a nao me estressar com algumas atitudes dela e acho que até porque me dispus a isso, parece que ela também nao fez nada que me incomodasse. Fomos conversando, olhando as casas, os jardins, as flores... ficamos observando - la no parque - um senhor que alimentava os peixes. E cada peixe enorme!!!
Mas logo depois do almoço, eis que percebo um movimento diferente no quarto dela e vou verificar. Ela havia montado a escada e subido pra procurar um livrinho de receitas de trico (que está sumido a meses e já foi procurado em cada centímetro da casa!!). Outra vez subindo na escada...nem falei nada, como ela ja havia descido achei melhor ficar calada pra nao gerar outra crise de relacionamento.
Hoje fomos novamente no parque da Aclimaçao pela manha, ela quis dar duas voltas completas...estava disposta.
Uma coisa tenho que fazer: mudar um pouco a alimentaçao e começar a fazer mais coisas tipo "pure", cremes, sopas... ela mastiga bem, mas vira e mexe está ficando com a comida "empacada" na garganta e pára de almoçar...Vou ver no grupo (ah! encontrei um grupo de apoio a cuidadores, muito bom mesmo!!) se isso também é sintoma da DA.
Bem, agora vou pra minha aula de árabe...

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segunda-feira, 19 de maio de 2008

19 de maio de 2008

Tenho postado pouco, mas nao significa que as coisas estejam tranquilas. Nao. Nao estao. Infelizmente parece que o MA (Mal de Alzheimer) é rápido no ataque. Terminamos todos os exames clínicos solicitados pela Dra. Paula, já dei entrada no processo junto ao SUS para conseguir o remédio necessário (alto custo). Dia 16 do mes que vem já poderei retirar a primeira dosagem. Muita coisa triste tem acontecido, mas o que é mais dificil neste processo da perda de memória da mae, é o que acontece com os familiares próximos: por mais que procuremos ler, nos informar, conhecer os sintomas e tudo que nos espera...parece que nossa mente nao admite a ideia e vez ou outra alguém fica aborrecido e até irado. No meu caso, principalmente, como cuidadora... muitas vezes parece que na verdade ela está mesmo fazendo as coisas de "caso pensado", pra me irritar. E tudo muito estranho, complicado. Há momentos em que se percebe que ela está "fora do ar", outros momentos parece que nao, que simplesmente ela está absolutamente em sua normalidade - portanto, fazendo tudo de propósito para me irritar. E numa dessas, perco a paciencia, me irrito, minha pressao altera, tenho taquicardia, vontade de sumir e esquecer que ela existe. Me dá muita raiva.
Tenho que colocar aqui oque aconteceu na ultima sexta-feira (dia 16/5): simplesmente ela resolveu limpar as vidraças do quarto. Nao teve dúvidas, subiu numa escada de cozinha e se colocou debruçada sobre as vidraças tentando limpar pelo lado de fora. Detalhe: moramos no primeiro andar! Pedi para que descesse e foi como se a terceira guerra mundial estivesse eclodindo. Ela se enfureceu, falou coisas pesadíssimas pra mim, queria que eu pegasse minhas coisas e deixasse o apartamento... e eu, infelizmente, também perdí a razao ao começar argumentar, retrucar, responder... pensei que infartaria. Fiz as malas pra ir embora. Mas em menos de 15 minutos percebi que ela estava sentada na sua poltrona de quarto, absolutamente "fora do ar". Minha raiva nao passava, mas consegui reconsiderar e desfiz as malas. Combinei com minha irma e fui pra Peruíbe com ela. A outra irma ficaria cuidando da mae. Eu precisava me acalmar.
Um fato interessante me ajudou a definitivamente "tomar consciencia" da situaçao: fui deixar os documentos no SUS e pela demora no atendimento, tive oportunidade de conversar com várias pessoas que também tem um portador do MA em casa. Lamentavelmente nao ouví nada de reconfortante. Ao contrário, tudo caminhará para pior. Eh (meu teclado nao quer digitar alguns acentos) urgente que eu tome consciencia que terei que conviver, dia a dia, com a morte lenta da mae. Nao a morte física - ela está mais forte que eu - mas a morte intelectual...mental...a separaçao gradativa dela de nós. Até o dia em que ela nao mais saberá que eu sou eu... e nao mais se lembrará dos demais filhos, netos, bisneta...enfim... isso é horrível.
Foram histórias tristes, deprimentes, as que ouvi. Nao vou relatar agora, nao é necessário.
Mas o final de semana na praia me ajudou a relaxar e tomar algumas decisoes que ainda que nao a curem, ao menos permitirá que ela tenha momentos com melhor qualidade de vida. E eu também estarei me poupando de mais stress. Seja o que Deus quiser, até quando Ele quiser.

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